De olho em 2026, Zema intensifica ataques a Lula nas redes e se aproxima de Bolsonaro
- Fernando Gama
- 7 de jul.
- 3 min de leitura
Com a saída do Poder Executivo programada para o final de 2026, quando concluirá seu segundo mandato como governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) tem intensificado as críticas ao governo do presidente Lula (PT) em suas redes sociais.
Um levantamento realizado pela Itatiaia, que analisou cerca de 261 publicações feitas no perfil do governador no Instagram entre 1º de janeiro e 4 de julho de 2025, aponta que ao menos 39 postagens contêm críticas diretas ou indiretas ao governo federal.
Para o professor Marcus Abílio Pereira, coordenador do Centro de Pesquisas em Política e Internet (CePPI-UFMG) e docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Zema se encontra em uma posição "ambígua" para a disputa presidencial de 2026. “Por um lado, carrega baixa rejeição e tem solidez política em Minas. Por outro, carece de projeção nacional para se viabilizar como uma alternativa competitiva no campo da direita e da extrema-direita”, avaliou.
Segundo Pereira, as recentes pesquisas Genial/Quaest mostram que a alta rejeição ao governo Lula tem se convertido em rejeição eleitoral, abrindo espaço para o surgimento de novas lideranças em 2026. “Para que Zema consiga ‘surfar’ nessa onda, é fundamental que ele rompa o ciclo de invisibilidade política e se apresente de forma mais efetiva ao eleitorado brasileiro”, completou.
Publicações e críticas
Em fevereiro deste ano, nos stories do Instagram, Zema publicou um vídeo comendo banana com casca para criticar o aumento no preço dos alimentos. À época, ele afirmou que essa seria uma forma de economizar. A publicação foi feita após o presidente Lula sugerir que a população evitasse comprar produtos com preços abusivos como forma de pressionar o mercado. “Sabe quando você escorrega na casca e não sabe de onde ela veio? É isso que o governo do PT está fazendo, e todos nós estamos caindo. O preço da comida só sobe, e o presidente fala para a gente parar de comprar”, disse Zema, em 13 de fevereiro.
Ainda no tema dos alimentos, o governador publicou um vídeo no qual reaproveita pó de café, em tom crítico ao presidente. Na gravação, ele relata ter separado o pó de café já usado, deixado secar e coado novamente. Zema reconhece que o resultado seria ruim e comparou a tentativa a um suposto "costume" brasileiro. “Parece que, no Brasil, estamos acostumados a repetir erros do passado na expectativa de que o resultado seja diferente”, afirmou.
Zema também passou a demonstrar publicamente mais afinidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em março, afirmou nas redes sociais que Bolsonaro é o maior "líder de oposição" ao governo petista e disse “torcer” para que ele recupere seus direitos políticos. O governador ainda participou de manifestações convocadas pelo ex-presidente ao longo deste ano.
Em outra publicação, Zema seguiu uma trend e divulgou imagens criadas por inteligência artificial com "bonecos" de integrantes do governo federal, como o presidente Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e a primeira-dama Janja. "O governo do PT é uma brincadeira de mau gosto. Ou a gente se vira contra isso, ou eles seguirão rindo da nossa cara", escreveu.
Estratégia digital
Para o professor da UFMG, as redes sociais — como Instagram, X (antigo Twitter), TikTok e Facebook — funcionam como “janelas de visibilidade” para políticos com pouco espaço na grande mídia, ainda concentrada nos eixos Rio-São Paulo. “O uso contínuo e intensificado dessas plataformas torna-se uma estratégia não apenas para ampliar a visibilidade, mas também para se posicionar sobre temas que preocupam a população brasileira”, analisou.
Segundo ele, essa pode ser uma das razões pelas quais Zema passou a se engajar mais em pautas como segurança pública. “Nesse cenário de realinhamento pós-Bolsonaro, parte expressiva do eleitorado mais à direita se vê órfã, e o discurso mais radicalizado que Zema tem adotado em seus perfis digitais pode ser uma tentativa deliberada de atrair a atenção e os votos desse segmento”, avaliou.

Para a reportagem, ele explica que as próximas pesquisas poderão responder se Zema irá, ou não, conseguir romper com "ciclo de invisibilidade política".
O governador ainda não descartou publicamente uma candidatura à Presidência em 2026. Em junho, afirmou que seu objetivo principal para o próximo ano será derrotar o PT, e disse estar disposto a abrir mão de uma eventual candidatura para que essa “meta” seja alcançada.
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